TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO - RESENHA DE LIVRO
AGUALUSA,
Jpsé Eduardo. Teoria Geral do Esquecimento- Rio de Janeiro: Foz, 2012
Durante
os últimos dias estive em Luanda através da literatura de
Agualusa, escritor angolano. A leitura, concluída hoje, deixou a
sensação de ter tido em mãos um livro precioso: Teoria Geral do
Esquecimento. E questionei-me porque não tenho lido mais autores
africanos lusófonos.
Mistério,
poesia, sensibilidade a cada página, uma narrativa
contada em ritmo próprio, onde acontecimentos, devaneios, sonhos, se
entrelaçam vamos gradativamente
compreendendo atitudes, situações,
estranhezas, dúvidas. Uma história incrível narrada de forma admiravel,
e, como disse o próprio autor “um homem com uma boa história é
quase um rei”.
O
eixo central do romance é Ludovica – Ludo, uma portuguesa de
Aveiro, que vai parar em Luanda com a irmã, quando esta se casa com
um engenheiro angolano. Descrita como
quem desde criança “nunca gostou de enfrentar o céu”, andava continuamente com um guarda-chuva. Tornou-se
mais reservada depois de um fato a que chamava de “acidente”, um dos segredos do livro. Na nova cidade, com costumes tão diversos, torna-se ainda mais deslocada refugiando-se nos livros e nas
tarefas domésticas.
Vem
a revolução, a independência de Angola, o cunhado e a irmã
desaparecerem e Ludo vê-se de repente sozinha, aterrorizada
com a violência que vê pela janela, decide, como
estratégia de sobrevivência, erguer
uma parede frente a porta do apartamento e vive emparedada durante
décadas. O mundo se esquece dela e ela se esquece do mundo. “Os
dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde
escrever. Também não tenho mais caneta. Escrevo nas paredes, com
pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo
na comida na água, no fogo e nos adjetivos.”
Outras
histórias vão se desenvolvendo em paralelo, aparentemente distantes
da primeira, mas que vão se entrelaçando como um mosaico, fazendo com que tudo tenha
sentido. O autor descreve seus personagens como "pessoas que foram esquecidas ou que desejam ser esquecidas".
A
ficção ocorre dentro de um contexto histórico real, a
guerra de independência de Angola, onde
se vivia um turbilhão de acontecimentos, colonos portugueses fugindo, e a guerra cruel onde
mercenários de diversos países juntamente com o militares sul
africanos, combatem tropas cubanas e angolanas. No vazio do Estado, deixado pela guerra, a impunidade libera lados obscuros. Pessoas são presas, fuziladas em praça pública. Entretanto,
não há uma preocupação em explicar o caos ou definir personagens
como bons ou maus, mas pessoas complexas vivendo uma época histórica difícil.
O
livro busca um jogo entre a memória, o esquecimento e o renascimento de um
novo tempo das cinzas. Recordar para compreender, perdoar, esquecer e prosseguir
reconstruindo um novo tempo. “ Não se atormente mais. Os erros nos
corrigem. Talvez seja melhor esquecer. Deveríamos praticar o
esquecimento.” Assim,
5 comentários:
Interessante. Ainda não li o livro, mas parecer conter algumas reflexões que faço no dia-a-dia, e como facilmente esqueço (não aquelas da idade) e coisas parecem não ter existido.
Tucha,bom dia!
Como você penso que a boa leitura é aquela que nos leva também a pensar,refletir,questionar .Pelo seu relato este livro parace transmitir algo além da ficção romancesca que visa muitas vezes apenas a comercialidade da obra.Bateu vontade de procurar aqui pra ler.
Abraços,
Desejei ler esse... quando vier à Capitania, traga pra me emprestar! Estou precisando de "leitura leve"...
Beijos, saudades...
É tipo "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças"?
Não Ra, não tem nenhuma semelhança, há um certo toque de mistério.
Lhe empresto Bel.
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