CELEBRANDO A VIDA
Na adolescência,
o processo de mudanças continua, agora falantes, buscamos expressar nossas angústias,
alegrias ou tristezas diante do que vivemos. Mas consideramos ganho entrar na
vida adulta com seus prazeres e obrigações.
Certamente
as transformações são mais dramáticas no envelhecimento. Especialmente porque nessa
fase da vida basicamente perdemos, gradativamente o corpo vai perdendo força
física, massa muscular, beleza, memória. E temos consciência de tudo o que ocorre.
Acredito que
começamos a percepção através do espelho. Cecília Meireles descreve num poema o
espanto diante da nova imagem.
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Uma das
perdas mais sofridas é a da memória. Começamos a demorar de lembrar. Li em
algum lugar que o que mergulha primeiro nas sombras do esquecimento são os nomes
próprios, depois os substantivos comuns também se embaralham. A conversa vai
ficando entrecortada de silêncios. Como era mesmo o nome da vizinha, daquele
filme, daquela atriz. Curiosamente
os adjetivos não somem. Aparecendo o nome, sua qualidade em junto, dos fundos
da memória. O nome está em algum lugar, algum tempo, de algum jeito.
Parece que vamos ficando em câmara lenta. Os
reflexos vão ficando retardados, a marcha não é mais a mesma, podemos tropeçar
e cair mais facilmente. Vai sendo reduzida também a acuidade auditiva, a
visual.
Sentimos a presença das mudanças. E perder não é bom. Alguns vivem estas perdas com amargura e
sofrimento. Outros porém conseguem
sorrir diante da perda, conviver com os limites e especialmente inventar novas
formas de criar e conviver.
Uma das minhas amigas celebrou hoje o seu aniversário
com arte. Ao aposentar-se começou a fazer cursos de teatro, de
contadora de história e foi uma revelação. No palco se recriou e, com arte, enfrenta as transformações que o novo momento de vida trouxe. Celebrando a vida sempre.
2 comentários:
Tava tentando entender do que se tratava a foto, até que no final veio a explicação.
Ótimo modo de celebrar a vida este da sua amiga.Cada dia é preciso ser valorizado e as mudanças devem servir para fins positivos também.
Abraço afetuoso hoje retornando brevemente online.
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