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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PAINHO



Acredito que os laços afetivos vão se formando aos poucos, de pequenos detalhes do cotidiano: abraços, conversas, olhares, carinhos, sorrisos. Fico lembrando de alguns momentos que foram marcantes na construção do afeto entre meu pai e eu.

O mais remoto destes momentos é a voz dele cantando uma música de ninar, sobre uma rua a ladrilhar, imaginava que fosse a que morávamos, que precisava mesmo de calçamento não necessariamente de pedras preciosas. Lembro de uma brincadeira que costumava fazer, me levar escondida num cesto na casa dos meus avós, os meus tios perguntavam por mim, eu saltava sorridente, acreditando surpreender a todos.



Como um caleidoscópio a memória vai trazendo cenas: um passeio de trem para o Iguape, idas à praia, cartas de Papai Noel, abraços ternos, sorvetes e outras alegrias e delícias. Até os momentos difíceis, como a minha resistência em ir à escola e o elefante do circo (um dia conto esta história, ou não) também chegam, mas nada me faz apagar o carinho das lembranças.

Acredito que o seu grande legado foi o meu amor aos livros Comprá-los e incentivar a leitura, sem pressão, apenas dando o exemplo de gostar de ler foram o despertar. Foi assim que conheci Narizinho, Pedrinho, Emília, os personagens de Lobato, o Cazuza, de Viriato Correia, que eram tão amigos quanto os vizinhos de rua.

E hoje os meus olhos adultos contemplam com muito carinho o meu “velhinho” e continuamos gostando de livros e de cinema. Mas a diabetes tem sido cruel com ele, dificuldades de mobilização e redução da acuidade visual trazem limites difíceis de suportar.

Numa das nossas últimas conversas, ele me disse: “Estou com saudades da minha vida”. Eu respondi: “Pai você ainda continua vivo”. Ele retrucou: “Tenho saudade do tempo que podia ler meus livros, ver meus filmes, ir para a rua, ver meus amigos”. Sei que limites não são fáceis de aceitar, e que palavras de consolo parecem inúteis. Temos procurado estar junto, apesar da distancia geográfica e mostrar para ele que a sua figura carinhosa e amiga vai ser sempre a inspiração das filhas e dos netos.


3 comentários:

Bel 14 de agosto de 2011 às 11:20  

Essa de "estou com saudades da minha vida" doeu. Tenho ouvido coisas semelhantes por aqui... E sempre dói.
:(

Ale Quejinho 20 de agosto de 2011 às 00:49  

Estas datas sao nostaugicas.
Ale

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