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sábado, 7 de maio de 2011

TUDO SOBRE MINHA MÃE

Não me lembro direito do que aconteceu no dia em que a conheci, era tudo muito novo e assustador para mim, chorava. Estava tão confortavelmente acolhida no seu interior que nascer foi um susto. Contaram que ela enfrentou bravamente as dores da minha chegada, Meu avô na sala, disse só ter ouvido os incentivos da parteira e o meu grito forte quando o ar encheu meus pulmões.

Nos anos que se seguiram fomos companhia constante, sob o seu olhar atento aprendi a engatinhar, a andar, a articular minhas primeiras palavras. Apesar da inexperiência, ela era carinho e cuidado. Parecemos felizes na fotografia do meu primeiro aniversário.

Vivemos a primeira grande crise quando tive que ir para a escola. Eu, já decidida aos meus 4 anos, não simpatizei com a professora e fugia da escola correndo pela praça afora. Entre surras e beijos, tentavam me convencer de qualquer jeito.

É os tempos eram assim, os conhecimentos de psicologia infantil, ainda não havia chegado a minha pequena cidade. Depois das ponderações de alguém mais experiente (uma professora do 3º ano), que sugeriu negociações e acordos, conseguir me acalmar, e pouco a pouco fui aprendendo a gostar da escola.

Esta fotografia, no jardim em frente à escola, fazia parte dos acordos.


Perceberam que a minha mãe era linha dura, ela era a autoridade máxima que comandava o nosso destino. Eram tantos “não pode”, para os quais os meus argumentos infantis nunca funcionavam. Ela contra argumentava os meus porquês com uma frase decisiva: “Não pode porque não pode”.

E quando saiamos das recomendações ela fazia uso do “recurso pedagógico” das palmadas. Em contrapartida, eu usava um outro recurso, “a cena” com gritos e muito choro. Diziam até que tinha um talento artístico para o drama. Lamentavelmente não segui a carreira de atriz, o cinema e a televisão nacional perderam um talento (rs,rs,rs).

È claro que existiam momentos de alegria e carinho. Lembro as temporadas na fazenda dos meus avós, as idas à praia, mas matines, nos Natais, nas gostosas comidas que ela preparava.

Na adolescência nosso relacionamento ficou difícil. Como qualquer pessoa nesta idade, queria ousar, e ela puxava as rédeas. Proibia de fazer um monte de coisas, obrigava a fazer outras tantas. “É para o seu próprio bem”, justificava. Dizia que tinha medo que ficássemos (eu e minhas irmãs) “mal faladas” na cidade, ou receio que não tivéssemos uma “formatura” e assim ficássemos dependentes do marido.

Fui para capital estudar, confesso que estar longe do seu excesso de zelo me dava certo alívio. Mesmo naquela época eu tinha certa compreensão da necessidade de ter alguns cuidados, mas tinha certeza que ela exagerava. Acho que era necessário orientar, dar coordenadas, acompanhar, mas sem tanta repressão. Assim, com certa independência, busquei investir nos estudos, mas me divertir um pouco também (rs,rs,rs).

A medida que eu amadurecia nosso relacionamento melhorava. Acho que fomos mudando juntas, compreendendo melhor uma a outra. É claro que foi um problema quando engravidei sem estar casada, mas o posterior casamento e a chegada da neta fizeram com que tudo fosse esquecido. Ela ficou encantada com a netinha, tinha a maior paciência para ninar, encheu de vestidinhos, denguinhos e carinhos.

Os netos fizeram o milagre, ela foi ficando mais suave a medida que iam chegando. Nas férias ilheenses os acolhia, oferecia colo, carinho, comidas especiais. Sem falar nas netas que moravam em Ilhéus que foram “maternadas” junto com a minha irmã.

Com a chegada dos cabelos brancos ela se tornou mais leve: não grita, não reprime, não censura os netos, nem parece a mesma pessoa. Passou a ser mais condescendente consigo mesmo. Investiu no cuidado com a alimentação, a fazer atividades físicas, buscar construir laços com novas e antigas amigas.

Talvez a velhice seja mesmo a mais inesperada de todas as coisas, como disse Tostsky, no caso da minha mãe, parece ser também a mais doce.


PS- Faltou agradecer a Almodovar pelo título.

13 comentários:

José Sousa 8 de maio de 2011 às 07:24  

Olá querida Tucha!
Sempre que venho aqui, um lindo tema me alimenta a alma!

Um grande abraço e um beijo.

Um bom Domingo

José Sousa 8 de maio de 2011 às 07:25  

Olá querida Tucha!
Sempre que venho aqui, um lindo tema me alimenta a alma!

Um grande abraço e um beijo.

Um bom Domingo

Depois dos 25, mas antes do 40! 8 de maio de 2011 às 09:14  

Que linda homenagem... Adorei as fotos antigas!Quer dizer que os cabelos brancos trouxeram doçura para a sua mãe? rs

Beijos

Marina Andrade 8 de maio de 2011 às 11:48  

Marta de verdade adorei seu texto, percebi até algumas lágrimas saírem timidamente do canto do olho, e falo isso pq não sou emotiva ,mas tenho certeza que é a tal idade que teima em chegar...Lembrei demais de D.Du e de não ter podido chegar a maturidade com ela viva ,e poder dizer o quanto os ensinamentos dela foram fundamentais para a minha chegada até aqui .
Tenha um dia das mães tranquilo.Bjos

Tamara Guerra 8 de maio de 2011 às 15:08  

Adorei!!!!
Hoje,tia Madalena é porta-voz da família para dar as boas e más notícias.Sem falar no cuidado que tem por todos nós,a matriarca da família Guerra.

Anônimo,  8 de maio de 2011 às 16:30  

Lindo Marta, adoravel. Feliz dias das maes para voce.
Grande abraco

Vitoria

Bel 8 de maio de 2011 às 17:39  

Você tem mesmo sensibilidade para perceber as coisas de uma maneira especial... e também tem talento para os registros históricos! Cadê o livro sobre os Guerra-Pinillos???

Eu entendo perfeitamente tudo o que vc viveu, de alguma maneira participei um pouco dessa história. E se a sua mãe era linha dura, que direi da minha? (risos)

Adorei as fotos, essa da praça da escola é na estátua de Sapho, né Qual era a escola, o Afonso?

Beijo, saudade...

Maína Pinillos Prates 8 de maio de 2011 às 20:38  

Você não contou que ela trasnformou seu quarto em garagem e que foi a sua maior colecionadora das suas artes plásticas ; )

Tucha 8 de maio de 2011 às 21:11  

Pois é meninas e menino... obrigado pelos comentários. Sei que apesar de todos as possíveis crises deste relacionamento tão proximos amamos nossas mães e aprendemos muito com elas. E Maína apesar do título da postagem... não deu pra escrever tudo.

Carlucha 9 de maio de 2011 às 17:23  

É Tucha, pasme, mas as mães tbém são humanas e falíveis!! hehe
Só nos resta amá-las com e apesar de todos os defeitos...
Afinal, qual mãe nunca errou? ;)
Bjos e uma ótima semana pra vc!

Bergilde 10 de maio de 2011 às 06:41  

E,hoje,como mãe me deparo com os mesmos pensamentos,medos e zelos da minha mãe.É incrível isso tudo que nos assemelha.
Aprecio muito seu modo de falar da família aqui.Grande abraço amiga e uma semana feliz pra ti!

Ramon Pinillos Prates 11 de maio de 2011 às 18:53  

A foto da escola é genial!
eheheheheh

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