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quinta-feira, 19 de maio de 2011

DOS TEMPOS DO TEMPO - PRESENTE

A idéia destes últimos post ocorreu ao ouvir Oração ao Tempo, de Caetano Veloso, cantada por Djavan no novo CD - Ária. Além da bela interpretação gostei também do arranjo. Enquanto no de Caetano o ritmo tem toques nordestinos, este traz a sonoridade do violão e a percussão a lembrança o tic tac dos relógios.




Mas foi a poesia da letra que sempre me encantou. É verdadeira oração. Como um mantra ou uma ladainha, a palavra tempo é continuamente e ritmamente repetida, e os versos ficam então entremeados pelo seu continuo palpitar.

A música começa com louvores a beleza do tempo "bonito como a cara do meu filho" e a constatação de no nosso envolvimento com o ele, o “compositor dos destinos, tambor de todos os ritmos”.

E os louvores ao tempo prosseguem: “por seres tão inventivo, e pareceres contínuo”. Na continuidade e inventividade no tempo, que nos une e nos separa dos outros, tecemos o bordado da vida, na teia minuciosa dos minutos. A sensação de ganhar e perder nas variantes do tempo esta constantemente conosco.

Depois dos elogios o pedido, ou melhor, um acordo: “peço prazer legitimo e o movimento preciso”, mas o poeta não é exigente, faz a ressalva: “quando tempo for propício”. E pede a iluminação: “de modo que o meu espírito/ ganhe um brilho definido/ e eu espalhe benefícios”.

A cumplicidade se estabelece “o que usaremos prá isso / fica guardo em sigilo apenas contigo e migo”. O acordo ganha uma contrapartida, o poeta que oferece “elogios nas rimas do meu estilo.”

Mas vida também é finitude, o grande medo dos humanos, a morte, é enfrentada com naturalidade: “e quando eu tiver saído /para fora do teu círculo/ não serei nem terás sido.” Mas pressente a eternidade da memória, de perdurar nos que ama, na possibilidade de encontro “num outro nível de vínculo”.

E fecho com versos de um outro menestrel, Vinicius de Moraes:
Os outros que contem
Passo a passo
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo é quando.



PS- Este post é dedicado ao meu amigo Samuel, o cubano, que partiu esta semana para fora do ciclo do tempo. Ele espalhou benefícios, com a sua prática médica, em Santa Clara (Cuba) e no Ceará, onde residia. Permanecerão na memória nossas conversas, nossas caminhadas à beira mar, os sorrisos, divergencias e convergencias. Que Deus lhe acolha na sua graça infinita e console aqueles que lhe eram proximos.

4 comentários:

José Sousa 20 de maio de 2011 às 07:09  

Querida Tucha!
Para alem do lindo post, que li e ouvi o lindo video, quero te dizer que, os amigos partem mas as memórias ficam". Adorei o descreves, como sempre me desperta e me enriquece.

Um beijo grande e um bom fim de semana.

Pedro,  22 de maio de 2011 às 12:51  

Nossa finitude... não sei se por ela ou apesar dela alguns momentos e suas memórias nos mostra a vida fascinante
Um abraço
Pedro

Bergilde 24 de maio de 2011 às 14:31  

Tucha,
Bela homenagem póstuma ao seu amigo que dessa vida soube proveitosamente sentir e não apenas viver.Com certeza suas ações deixaram marcas indeléveis aqueles que com ele puderam conviver.
Abraços pra você!

Robério 24 de maio de 2011 às 21:33  

Ultimante, a célebre frase de Woody Allen: "A vida tem vida própria", tem-se feita cada dia mais concreta. O Tempo não é e não se pode ser considerado como mero coadjuvante em nossas vidas. Ele contracena conosco...Seja talvez por ser Orixá (Só! Eeró! Iroko), seja por ser presente Divino...ou seja "o tempo presente, os homens prsentes, a vida presente..."

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