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segunda-feira, 18 de abril de 2011

EXPOR OU PRESERVAR

Com um desembaraço notável, um homem de meia idade, sentado ao meu lado no ônibus, me conta como o seu casamento de 20 anos terminou: descobriu que sua esposa, mãe dos seus dois filhos estava tendo um caso com outra. À medida que a viajem transcorria ele contava para mim, uma pessoa completamente desconhecida, os detalhes da descoberta da traição e da separação. Sua intimidade estava ali, aberta a visitação.

Este acontecimento me fez refletir se, em tempos de Big Brother e redes sociais, a privacidade é desejada. Zigmunt Baumam, sociólogo polonês, chama a os tempos atuais de “mundo líquido moderno”, e diz que hoje temos um pendor maior pela exposição.

Não somos mais os mesmos desde que as novas mídias nos tornaram presenças conectadas quase em tempo real. A experiência de contar a sua vida para estranhos, deixa de ser de pessoa a pessoa, como o sujeito do ônibus, e passa a ser coletiva, através das redes sociais, blogs quem interessar e acessar.

Com certeza, nossa vida social não é a mesma de 20 anos atrás, quando não existia a internet. E o avanço foi maior quando surgiu a Web 2.0, que inaugurou as redes colaborativas, como blogs, you tube, orkut, facebook, twitter. Cada vez é mais comum, celebridades e anônimos abrirem a janela indiscreta postarem detalhes da sua vida no twiter. E existem até os que se tornaram celebridades justamente pela exposição (como a Bruna sufistinha e o seu blog).

Expomos nossas fotografias, nossas idéias, nossos pensamentos mais íntimos de forma pública na web. Uma, digamos assim, “nudez” social, psíquica e por vezes física. As redes sociais são recursos cada vez mais usados: por empresas quando querem saber mais do candidato (a) a trabalho, nas investigações policiais ou nas pessoas quando querem bisbilhotar a vida dos outros (ex-namorados/as, possíveis pretendentes ou rivais).

São cerca de 70 milhões de pessoas conectadas no Brasil à internet, quem está de fora está invisível. Como os humanos são gregários instintivamente, a solidão nos assusta, seguimos a onda e vamos então onde as pessoas estão se relacionando, e lá nos comunicamos, queremos ser aceitos, queridos, elogiados.

Acredito que os encontros na web podem ser tão significativos quanto os vínculos presenciais. Fiz amigos através do blog que são tão queridos quanto os que estão perto fisicamente. Outra facilidade é estreitar laços já existentes. Posso acompanhar a lua de mel da minha prima na Europa, a casamento de uma amiga no Rio de Janeiro, o aniversário da minha amiga em Londres, com riqueza de detalhe dos relatos e das fotografias ou vídeos. Li em algum lugar que até partos e sepultamentos estão sendo transmitidos através da rede.

Mas será que a nossa intimidade se perde quando podemos ser achados no Google? Acredito que decidimos em que grau queremos revelar nossa vida, menor ou maior exposição. É possível também usar um avatar ou uma representação virtual. Brauman diz que “quem zela demais pela invisibilidade tende a ser rejeitado ou considerado suspeito de um crime”. Exageros à parte, podemos nos tornar pessoa no mundo virtual, com segurança e preservação da privacidade, é só agir com cuidado. Afinal a complexidade humana, com suas as virtudes, solidariedade, perversidade e loucura permanecem no mundo virtual.


5 comentários:

Bergilde 19 de abril de 2011 às 08:21  

Concordo quando disseste...' que decidimos em que grau queremos revelar nossa vida, menor ou maior exposição...'
Para isso precisamos de muito bom senso inclusive por questão de segurança.
Grande abraço pra você e já desejando Feliz Páscoa pois me ausento da rede nesse período.

Bel 19 de abril de 2011 às 14:34  

Boas reflexões...
Acho que o desejo de se expor é de cada um, e de cada momento que se vive. Tem gente que não se expõe na net, mas tb não se expõe na vida real, é trancado, calado... O estranho é quando as duas "realidades" não combinam.
No caso do homem que se abriu com vc, creio que ele sentiu que vc era uma boa ouvinte.... e despejou o desespero pelo qual estava passando. Eu tb já ouvi desabafos assim, de desconhecidos.

Já na web, fiz grandes amigos - ainda HOJE falei por telefone com uma "amiga de twitter" pela primeira vez. E parecia que éramos íntimas, e amigas de anos!!! - e me abri ao ponto de detalhar a lua-de-mel na Europa (hahaha adorei ser citada aqui!). Na vida real? Também sou bocuda, falo meRmo!

Bjoooo

Adriana Alencar 20 de abril de 2011 às 20:10  

Adorei o seu texto! Concordo que as relações mudaram com o advento da internet, mas a privacidade ainda é um bem a ser preservado, inclusive a lei assegura isso. Não gostaria de ter a minha intimidade exposta na web, por isso procuro evitar fotos ou nomes nos posts e nos comentários, e faço o mesmo com coisas de amigos, virtuais ou não, e de conhecidos.
Beijo
Adri

Ramon Pinillos Prates 20 de abril de 2011 às 20:45  

A Internet só serve pra estragar a vida das pessoas.
ahahahahah

José Sousa 22 de abril de 2011 às 12:56  

Querida amiga Tucha!
Este texto é interessante! Adorei e "Fiz amigos através do blog que são tão queridos quanto os que estão perto fisicamente" isto também acontece comigo! Tu, minha querida, és uma delas, já estás num cantinho do meu coração. Adoro-te!

Um beijo grande e bela Páscoa.

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