DOMINGOU

Olha o tempo passando, olha o tempo

É domingo outra vez, meu amor, domingou

Toquato Neto e Gilberto Gil

Sol de domingo invadindo a janela, convite pra rua. Corpos gordos, magros, sarados, jovens ou não, se expõem democraticamente à luz do dia nos parques, praias, jardins e gramados da cidade. A luminosidade dá novo tom ao azul do céu, destacando o colorido das pipas que aproveitam os ventos de setembro.

Apesar da aparente tranquilidade a cidade de Salvador vive um momento particularmente tenso. Onibus queimados, módulos policiais bombardeados e policiais atacados. Episódios de uma guerra que tem como maioria das vítimas jovens, soldados do tráfico ou policiais.

Por trás dos soldados do tráficos há um poder que movimenta muito dinheiro, armas e drogas. Sem muita opção de sobrevivência nas periferias das grandes cidades, os jovens ingressam no mundo do crime. A liderança de quem comanda é exercida pela violência e pela sedução de ganho "fácil".

Acredito que não teremos chances de vencer esta batalha com mais violência. Precisamos superar as desigualdades e injustiças sociais. Fazer funcionar bem os serviços públicos: escolas, centros de saúde, cultura, lazer, geração de emprego.

Quando o Estado se fez presente, a comunidade sai do domínio dos traficantes e se transforma. E assim, possam surgir da periferia talentos em usar bem, não armas destruindo e aterrorizando, mas instrumentos musicais, computadores, canetas, máquinas fotográficas, bolas.

Li hoje no jornal A TARDE que a fotografia que ilustrou uma das edições da semana foi de um adolescente que aprende a fotografar num dos projetos da comunidade. E ficamos a imaginar quantos talentos deixam de "acontecer" por falta de oportunidade.

Sol de primavera

Abre as janelas

A lição sabemos de cor

Só nos resta aprender

Beto Guedes