UMA CARTA PARA MIM
CARA AMIGA
Difícil escrever para você já que nossa comunicação é direta e contínua, mas enfim, a Eliane chegou com a idéia de Carta para mim, e resolvi tornar público nesta carta um pouco do nosso infinito particular.
Se Freud tem razão, na verdade, cada um de nós é três. Um id, que exige satisfação imediata dos prazeres, nosso princípio do prazer. Um super ego, que derivado dos valores familiares e sociais, censura, apontando desejos inadequados e as conseqüências. E o ego, regido pelo princípio da realidade, que tenta fazer a síntese, sendo a soma dos pensamentos, idéias, sentimentos, o nosso consciente.
Assim, cara amiga, nós, os múltiplos que existem em você, lhe inspiramos as idéias mais loucas, os prazeres mais intensos, uma vida hedonística, sem se preocupar com ninguém. Mas, ao mesmo tempo, lhe censuramos, mostramos as conseqüências dos seus prazeres, lhe enchemos de culpa. Indicamos o caminho inverso, do altruísmo, da moderação, da ponderação.
No meio deste eterno conflito, você fez o que pode pra ser feliz. E, por vezes foi, outras, tristeza, dor e desencanto lhe visitaram. Chorou, sorriu, gritou, se descabelou, gozou, comeu, amou, criou uma família, ajudou pessoas, foi mulher, mãe, profissional, amiga, chata, maravilhosa, fascinante, intransigente, querida, amada, odiada, tímida e ousada.
Sim, as vezes, a dor de viver foi tanta. que você pensou em partir, mas lhe salvamos da morte, lhe dissemos como o poeta:
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão, se é que virão.
E você se resistiu, apostando nas possibilidades que a vida lhe ofereceria. Acreditou em utopias, militou pelo sonho, pela alegria geral. Vieram encontros, tempos de alegria e canções. Chegaram também desencontros, tempos de lágrimas e reflexão.
E agora é tempo de maturidade, a curva perigosa dos cinqüenta, prenúncio do tempo de outras possibilidades
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
9 comentários:
OI minha querida, quem nunca passou por uma decepcao na vida e que nao pensou em se matar? Mesmo que por um filete de segundo e no outro se recriminando por tal pensamento? O melhor é a reacao do despertar desse anestésico pensamento. Em minha vida aconteceu que eu desafiei a tentacao, me dizendo que eu queria ver o que o nascer do sol me traria e aos 33 anos ele me trouxe alguém do outro lado do oceano Atlântico. Sem esperanca de ser mae, com 4 abortos naturais e um casamento desfeito. Hoje aos 48 anos, tenho 2 filhos que vingaram e mesmo com muitas saudades da família que vivem do outro lado do Atlântico, rs, eu sou muito feliz, porque aprendi que o sol sempre vai nascer. Às vezes mais brilhantes, outras vezes com nuvens e outras vezes vai me parecer que ele nem nasceu naquele dia. Mas nada como o outro dia para se comecar de novo e sempre.
Um beijo grande e obrigada por se deixar conhecer um pouquinho.
Vim pra comentar e li aqui a Georgia sabiamente falando coisas que me veio ao coração dizer..
Dizer que gostei de te ler e até a forma elegante que colocou a postagem da carta.
Sobrevivente das cartas. rs
Tudo uns chorões, yo soy una. rs
besos
Chris
Tucha,
essa blogagem mexeu com nossos sentimentos... estou adorando participar. Parabéns pela postagem... linda!
Também estou participando... Se puder, dá uma passadinha, gostarei da tua visita!
Bjs.
Dalva
Tucha,
Parabéns pela sua carta.
Como é bom conhecer outra pessoas, compartilhar aprendizagem e experiências.
Felicidade e muita luz.
Abraços,
Marise.
Muito lindo e profundo! Quem disse que viver é fácil? As vezes parece que estamos em uma montanha russa de emoções e sentimentos. Mas são essas mesmas esperiências que nos fazem crescer! Somos a soma de todas as nossas experiências e da maneira como lidamos com elas...
Uma semana recheada de momentos preciosos pra vc! Grandes e pequenos... Bjos
Eita!
Eu tô tão por fora que nem sabia que vc tava participando também... e, como sempre, muito poética... perfeita!
Beijoooo
Tucha, amei a sua carta!
Você me fez relembrar meus tempos de faculdade, das minhas resenhas sobre Freud em Psicologia da Educação! ^^
Querida, você viveu um mix de emoções que a fizeram essa mulher forte, decidida, apta a lidar com qualquer problema!
Eu acho que a melhor palavra para usar, ao invés de velhice, é maturidade!
Amo Drummond! Acertou em cheio nas escolhas!
Bjs e parabéns pela linda participação na blogagem da Elaine!
"...Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação"... não tem como fugir né? ai é só curtir esse momento! Felicidades! Bjinhos da Madrasta!
Tucha, que linda sua carta! Parabéns pela participação!
Beijo
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