LÍNGUA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
Acreditava que a língua que falava era menor, pobre, pouco falada. A descrição do idioma como: rude e doloroso, desconhecido e obscuro por Bilac, deixava em mim a sensação de que precisava falar português não era boa coisa. Entretanto, à medida que fui lendo os grandes escritores em português, como Guimarães Rosa, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa percebi o quanto ela era rica, sonora e maravilhosa.
Gostava de ouvi-la, lê-la e descobri as transformações que iam ocorrendo na dinâmica do tempo, as palavras criadas, resignficadas. Mesmo sabendo-a difícil, fui aprendendo a domá-la, embora muitas vezes derrape, e cometa erros de ortografia, de conjugação ou de concordância verbal, de construção da frase. Agora então, com o novo acordo ortográfico, o número de erros deve ter aumentado.
Caetano foi mais feliz, ao louvá-la, em Língua. E eu tinha a mesma alegria, em roçar a minha língua na língua de Camões, de Pessoa e do Rosa.
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua
”Fala Mangueira! Fala!
Mas quero falar de um documentário, chamado Língua – vidas em português. O cineasta Victor Lopes, moçambicano, erradicado no Brasil, filma em seis países (Brasil, Moçambique, Índia, Portugal, França e Japão), colhendo depoimentos e paisagens. E vai, dando voz a personagens ilustres e anônimos, desvendando culturas, descobrindo que o português mesclou melodias, climas, ritmos, religiões, alimentos e paisagens. E foi reinventado centenas de vezes, misturando-se a outros idiomas, na alegria da fala do povo.
Não é fácil fazer um documentário. Costurar os depoimentos de forma a tornar o conjunto interessante e gostoso de ver é uma arte que poucos dominam. O maior problema desse é que são tantos os focos de narrativa que muitas vezes o filme fica repetitivo, cheio de idas e vindas, cansativo, quase enfadonho.
Entretanto, o filme tem bons momentos, depoimentos sensíveis, boas imagens. Algumas falas são surpreendentes, como a de Saramago que arrisca dizer que ‘não existe uma língua portuguesa, mas línguas em português.' Outros como João Ubaldo Ribeiro, Martinho da Vila, Tereza Salgueiro (grupo Madredeus) o escritor moçambicano Mia Couto e gente do povo, vão falando da experiência com o uso da língua e do seu cotidiano. Desta forma o filme consegue atingir o seu objetivo. Mostrar que o idioma não se constrói com regras e dicionários, mas no uso dos seus falantes.
Mia Couto destaca que no fundo, ‘o filme não está a viajar por lugares mas por pessoas.’ Reafirmando a força que a língua tem na formação do individuo, e o que Caetano diz nos seus versos Minha língua é minha pátria.
2 comentários:
Despertou, agora aguente. Pode copiar que eu quero!!!
;)
Beijooooo
Tucha, as primeiras árvores para o nosso Movimento Natureza já estao sendo plantadas e de um modo super especial. Veja quem foi a primeira a plantar sua árvore e de um modo bem especial. http://novitazinha.blogspot.com/2009/04/quase-um-conto-de-fadas.html
Um abraco Georgia
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