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sábado, 18 de abril de 2009

AS LEITORAS

Quando será que foi a primeira vez que os humanos se reuniram para compartilhar histórias? Fantasio que, ao redor de uma fogueira, ou numa noite de luar, tão logo surgiram as palavras, ou mesmo antes delas, eles estavam juntos para relatar suas aventuras nas florestas, uma caçada proveitosa. Daí para registrar essas aventuras nas paredes das cavernas, ou nos artefatos de barro foi um pulo.
Um longo caminho no tempo levou aos registro nos papiros e depois nos livro. Os primeiros, devem ter sido registros históricos, com certeza com algumas alterações na realidade, um toque de ficção. Abrindo caminho para a fantasia total da ficção, com alguns toques de realidade.

Refletindo sobre as verdades e as mentiras dos romances, Vargas Llosa, diz:
De fato os romances mentem – não podem fazer outra coisa – porém essa é só parte da história. A outra é que mentindo, expressam uma curiosa verdade, que somente podem expressar escondida, disfarçada do que não é. [...] Os homens não estão contentes com o seu destino, e quase todos – ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou obscuros – gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar – trapaceiramente- esse apetite surgiu a ficção.
Lembro que na infância, eu e minha irmã, improvisávamos com os lençóis os vestidos das princesas dos contos de fada, e naqueles breves momentos antes de dormir, éramos outras. Na manhã seguinte voltávamos a ser as meninas do interior, prontas para ir para a escola.

Não que tenhamos que ficar sempre fugindo da vida real, ela às vezes é bem cheia de aventuras, dramas, tragédias e comédias. Mas uma vida é muito pouco para nossa cabeça fantasiosa, queremos mais. Volto para Vargas Llosa:
Quando lemos os romances, não somos o que somos habitualmente, mas também criados para os quais os romancista nos transporta. Esse traslado é uma metamorfose: o reduto asfixiante que é a nossa vida real abre-se e saímos para ser outros, para viver vicariamente experiências que a ficção transforma como nossas. Sonho lúcido e fantasia encarnada, a ficção nos completa _ a nós, seres mutilados, a quem foi imposta a atroz dicotomia de ter uma única vida e os apetites e as fantasias de desejar outras mil.
Como toda boa menina, li Poliana, mas não consegui ser muito boa no Jogo do Contente. Gostei mais de estar na vida de Cazuza, garoto do interior do Maranhão, desafiando o professor autoritário, o grande vilão da história.
Na adolescência vivi no porão com Anne Frank, lendo o seu diário. O que mais me intrigava é que me identificava tanto com a adolescente do livro (que se permanecesse viva, teria a mais ou menos a idade da mamãe) e não conseguia me relacionar bem com minha mãe (alguém consegue isso na adolescência?).

Aos dezoito, quando estava sem saber o que fazer da vida, acompanhei de perto a caminhada de Sidarta, de Heman Hesse e sua trajetória de aprendizado pela vida. Tive coragem para buscar construir meus próprios caminhos.

Voltei no tempo, na minha própria cidade, lendo Gabriela Cravo e Canela e Terras do sem fim. Caminhei por uma Colômbia fantástica em Cem Anos de Solidão e Amor em Tempos de Cólera. Fui uma das damas da corte do rei Arthur, através das Brumas de Avlon.

A literatura nos leva de volta ao passado e nos irmana com aqueles que, em épocas idas, forjaram, desfrutaram e sonharam esses textos que nos logaram e que, agora, nos fazem desfrutar e sonhar também. Esse sentimento de pertencer à coletividade humana através do tempo e do espaço é o mais alto logro da cultura, e nada contribuiu tanto para renová-lo em cada geração como a literatura.

A literatura me irmana agora com outras mulheres, através do blog O que elas estão lendo. Sem saber que era aniversário havia escrito um post sobre elas, fica então como um presente a todas, as organizadoras, as leitoras, as escritoras.


As citações são de Mário Vargas Llosa, as duas primeiras do livro A verdade das Mentiras e a terceira do Dicionário Amoroso da América Latina.


3 comentários:

Bel 18 de abril de 2009 às 20:45  

Prima, cada vez mais tenho cverteza que quero ser como você quando crescer!!!
Beijoooooooo

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ 19 de abril de 2009 às 02:34  

Menina que deliciosa homenagem ao blog O que elas estao lendo. Muito obrigada pelo carinho.

Amei o texto, a sua trajetória e eu tb tive problemas na adolescencia com minha mae. Quem nao, nao é?

Tô vendo a minha amiguinha a Bel por aqui, rs.

Um lindo domingo prá você e muito obrigada pelo carinho.

Um beijo grande

Ramon Pinillos Prates 19 de abril de 2009 às 11:45  

Viajou legal hein, boas analogias.
eheheheh

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