OUTONO
Mas o sol vai se inclinando aos poucos, ficará com viagens cada vez mais curtas. As noites, inicialmente iguais ao dia, irão se tornando mais longas. E o vento virá, trazendo arrepios, convidando os casacos que dormem a saírem das gavetas e os vinhos das adegas.
A luz intensa do sol irá se tornar mais tranqüila, dando vida diferente às cores. Não temos, aqui nos trópicos, aquele amarelar das folhas e desnudar das árvores, preparando-se para os tempos de inverno e a neve, entretanto, o verde das plantas ganha semitons, mesclando-se com tons de amarelo. Tão exuberante ficam as árvores que Djavan, numa música chamada Outono, as compara a mulher amada:
O azul do céu ficará mais encorpado (Ramon vai dizer que é fantasia minha). Deve ter sido numa tarde de outono que os Beatles compuseram aquela balada que diz assim: ... because the sky ir blue, it make me cry... Deve ter sido um choro suave, de comoção diante da beleza da natureza e da vida.
O verão é inquieto, convida para o agito, folia e festa. O outono é tranqüililo, convida a contemplação, a meditação, ao aconchego. Em latim ele é chamado de Tempus Autumnus (literalmente tempo do ocaso).
Os crepúsculos chegam mais cedo, com laranjas, amarelos, vermelhos, roxos - cores de adeus, até que o azul escuro tome conta do céu, prenunciando a noite. Acredito que as temperaturas mais amenas dos ocasos de outono nos tragam, além da beleza, certa melancolia reflexiva, nos inundando de pensamentos... Os Beatles explicam porque: besause the wind is high it blows my mind / besause the wind is high.
E muitas reflexões me chegam nos finais de tarde do outono que se incia. A primeira delas, me ocorreu hoje, ouvindo os Beatles ( ...besause the word is round it turns me on / besause the word is round ) refleti sobre a repetição e mudança. O mundo gira, as estações se sucedem, natureza se repete, e, ao mesmo tempo se inova. Li em algum lugar que a sensação de amplitude do tempo é maior quando fazemos diferente, no meio da rotina. Assim, nos cabe aproveitar a repetição das estações inovando, criando.
Que o outono nos deixe animados para aproveitar cada momento, como único, colher cada dia (carpen diem!), cada estação. Porque o mundo está girando, há vento, o céu por vezes está azul, novos poentes, novas alvoradas, velhos e novos amores acontecem. Vocês querem mais porquês?
E finalizo com outros desejos de outono, expressos num poema de Pablo Neruda:
Quero apenas cinco coisas
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
1 comentários:
Ah, se for "viagem" sua, eu viajo junto.
E amei o poema de Neruda, eu não conhecia.
Beijoooo
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