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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO

Perdi o temor de viajar sozinha em Natal. Fiquei só apenas na noite da chegada, no dia seguinte já estava enturmada. Mas viajar bem acompanhado é sempre melhor.

Perdi o rumo nas ruelas de Veneza, um gentil italiano me ajudou a reencontrar os caminhos. Nós perdemos do grupo em Paris, terminamos fazendo todo o roteiro (torre Eiffel, passeio pelo Sena etc.) num tempo todo nosso.


Perdi a linha em Belém, nas fartas mesas do Círio de Nazaré: maniçoba, pato no tucupi, sobremesas a base de cupuaçu. Sem falar nas delícias das sorveterias. Alguém não perderia?

Perdi um boné em Cancun, como ele era emprestado da filha, quase apanhei ao chegar. Perdi um chapéu no aeroporto em Manaus. Mas nunca perdi a cabeça.


Perdi as fotos em Cuscu e Machu Picchu, a máquina resolveu quebrar. Ficou tudo guardado apenas na lembrança.

Perdi a vergonha na Alemanha. Fui a uma praia de nudismo perto de Jever, as pessoas estavam tão à vontade que foi não fiquei constrangida. Perdi a compostura em Puerto Blest (AG) quando pedimos uma garrafa de vinho pra acompanhar o sanduíche, era o mesmo preço de duas coca-colas.


Perdi o avião em Porto Seguro, ganhei em troca um sábado inteiro de alegria pelas ruas da histórica cidade. Perdi a reserva do hotel em Barcelona (culpa do atraso do vôo), era final de verão, todos os hotéis cheios, só não dormimos na rua por conta da solidariedade de uma brasileira.

Perdi um baile em Cuba, choveu horrores. O país quase foi visitado por furação aqueles dias, os cubanos assustados acompanhando o noticiário, e nós brasileiros, só tivemos noção do perigo que corremos quando vimos as imagens de destruição na America Central.

Perdi o equilíbrio duas vezes: Na Chapada Diamantina, no limo de uma cachoeira e em Bariloche, descendo a montanha de neve de “esquibunda”.


Perdi o medo de vulcões quando passei a noite numa cidadezinha no sul do Chile cercada por três vulcões, o calor do aquecedor nos acordou de madrugada, será que esta havendo uma erupção. Vou enfrentá-los outra vez agora, passeando pela avenida dos vulcões no Equador.



Perdi um namorado em Fortaleza, entretanto ele já havia proporcionado mil e uma noites de amor em praias do Nordeste. ("Fui tuya, fuiste mio. Qué mas? Juntos hicimos um recordo la ruta donde El amor pasó." Neruda)

Perdi o tênis na Chapada dos Veadeiros (GO), na verdade, eu o abandonei, o pobrezinho detonou depois das muitas trilhas. Perdi uma pulseira num hotel em Madri, era linda, sorte da arrumadeira que encontrou.



Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente.

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.

Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

3 comentários:

Bel 20 de fevereiro de 2009 às 19:36  

Eitaaaaaaaaa

A mulher tá mesmo inspirada!!!
Adorei suas perdas... e tudo o que você esncontrou por causa delas!
"Perca" muito mais, desta vez!

Beijo enorme!!!

Ramon Pinillos Prates 21 de fevereiro de 2009 às 13:34  

Pois é, muito chique.
Queria ver você perder o buzu pra Brotas...
hehehehehe

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