#navbar-iframe { height: 0px; visibility: hidden; display: none; }

quinta-feira, 16 de julho de 2009

LENDO MACHADO COLETIVAMENTE

Esta postagem é a participação na Leitura coletiva promovida pelo blog Fio de Ariadne. A leitura é o conto de Machado de Assis: A missa do Galo, escrito em 1893. Apesar de não ser especialista em literatura, arisquei resenhá-lo, pensando em estimulá-los a também a ler e discordar ou concordar com o que escrevi.

O conto começa despertando nossa curiosidade para lê-lo. “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há alguns anos, contava eu com dezessete, ela trinta.” Intrigados, nos perguntamos: que encontro foi esse e porque permanece na memória depois de tanto tempo?

A história vai sendo apresentada com sutileza. Narrada em primeira pessoa por Nogueira, jovem residente no interior, que está na capital para estudos e hospeda-se com o casal Menezes e Conceição. São personagens coadjuvantes, a mãe de Conceição e duas escravas.

Inusitada revelação já aparece no primeiro parágrafo, o adultério de Menezes. Tema recorrente em Machado, o adultério, desta vez, é masculino, explicito e perdoado. Para os padrões da época, a tolerância da esposa era esperada, o narrador, entretanto é dúbio no seu julgamento. Inicialmente a chama de “santa”, depois execra sua passividade, sua resignação. Questiona se, incapaz de odiar, ela também não seria de amar. Compreenderemos mais tarde essa posição.

O ponto central do conto vem em seguida, a conversa entre Nogueira e Conceição na noite de Natal. Ele aguarda a missa do Galo lendo, e ela, com o marido ausente, chega na sala, com as “chinelinhas da alcova e o roupão branco, amarrado na cintura”, descrita como “tendo um ar de visão romântica”.

A conversa entre eles prossegue pela noite a fora, com temas diversificados: comentário sobre romances lidos, a diferença entre as missas no interior e na capital, sonhos, devoções. Para não acordar as pessoas da casa cochicham, a proximidade dos rostos, cria um clima de intimidade entre o casal.

A narrativa é entremeada pelas observações de Nogueira. A sutileza dos detalhes descritos sugere o encantamento do jovem com a interlocutora.

‘‘...Ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim, de vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los”.

“ Magra embora, tinha no seu que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo, essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite.”
“Não estando abotoadas as mangas, caíram naturalmente, e eu via-lhe metade dos braços , muito claros e menos magros do que se poderiam supor.”

“Uma dessas vezes, creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembro que os tornou a fechar os olhos, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me parecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Umas das que ainda tenho fresca é que em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima.”

“Penso que cheguei a abrir a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja.”

O momento de encantamento é quebrado pelas batidas na janela e a voz que bradava: “Missa do Galo! Missa do galo!”. A figura feminina prossegue na imaginação do jovem durante a cerimônia.

No dia seguinte, a decepção. Nogueira relata a missa do dia anterior à mesa e percebe a falta de interesse da mulher, que permanece indiferente a ele nos dias que seguem. Em férias, o jovem retorna a sua cidade. A narrativa é complementada com o relato da morte repentina no marido de Conceição, seu novo casamento com um escrevente do marido.

Mestre nas possibilidades o escritor deixa as dúvidas e as suposições para a imaginação do leitor. Não vou explicitar as minhas, convido você a lê-lo. E, se quer outro exemplo de sutileza e sedução entre um jovem e uma mulher madura, prossiga lendo Machado em Uns braços.

8 comentários:

Bel 16 de julho de 2009 às 21:50  
Este comentário foi removido pelo autor.
Bel 16 de julho de 2009 às 21:50  

Minha cabecinha DDA não está em condições de ler ou opinar sobre os contos de Machado hoje. Gosto de lê-lo, desde adolescente me delicio com os contos. Mas tem muito tempo que não gasto tempo com ele...

Elaine dos Santos 16 de julho de 2009 às 23:50  

Tucha, é engraçado, leio este e outros contos de Machado desde os tempos de faculdade (1992-1997), por vezes, retomo-o nas aulas e cada um tem o seu olhar sobre o conto. Na verdade, chamou a minha atenção foi a sua objetividade, a clareza - "sem floreios" desnecessário. Adorei "ver" com outros olhos. Obrigada :)

Carlucha 17 de julho de 2009 às 07:34  

Machado é sempre instigante... Traição, sedução, sensualidade, ambiguidade... É sempre um prazer ler e reler!!

Vanessa Anacleto 17 de julho de 2009 às 08:55  

Tucha, muito obrigada pela participação. Começamos a leitura coletiva em grande estilo. :-)

Abraço

17 de julho de 2009 às 10:01  

Brilhante resenha a sua. Já fui ler os adendos que colocou, muito bem elaborada. Machado me encanta muito.
Espero que a minha esteja a contento também.
Acabei de postar a minha e convido-a para dar seu comentário.
Sou sua companheira de Leitura coletiva e adorei seu espaço e me atrevi a acompnha-la.
Beijos e que seu fim de semana seja repleto de luz e muita paz!
Rô!

Luciano A.Santos 17 de julho de 2009 às 13:33  

Tucha,

Começamos a colher os frutos da Leitura Coletiva, e em grande estilo, com este conto de Machado. Fiquei instigado a relê-lo, pois já faz um tempo que o li, e lendo o post percebi certas nuances que não havia percebido na minha leitura, o que é um dos objetivos da Leitura Coletiva: agregarmos experiências.

Adorei o post, abraços.

Anônimo,  20 de julho de 2009 às 01:50  

Oi Tucha,
Bom ler Machado, né? Dia desses tive que fazer um trabalho pra minha pós sobre o conto A Cartomante, conhece, né?
Bjos,
Paulinha

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO