OS TONS DE CINZA
Confesso que fico
sempre com o pé atrás com os livros lançados com um esquema publicitário muito
intenso. Poucas vezes valem a pena. Resolvi apostar no badaladíssimo “Cinquenta
tons de cinza” (ed. Intrínseca), da escritora britânica E.L James. O principal
apelo do livro (ou melhor da série / pois já é uma trilogia) seria um erotismo
capaz de incendiar as mulheres.
Resolvi apostar. Afinal
quem não quer um aditivozinho embaixo do edredom, nestes dias de um certo frio
(alguém ai acredita no inverno baiano?). É claro que não esperava um clássico
da literatura mas acreditei que por ter sido vendido milhões lá fora (10
milhões de cópias e, 6 semanas nos Estados Unidos) que o livro seria
minimamente bem escrito e renderia quem sabe leitura divertida e estimulante.
Mas foi uma grande
decepção, tenho tentado fazer uma leitura sem preconceito, mas está sendo
dureza. Digamos que é uma versão “Sabrina” de luxo. O "luxo", no
caso, fica por conta dos personagens: uma estudante de literatura e um jovem
bilionário. Anastasia e Christian Grey. Tudo muito chique, e com farta
descrição dos atributos físicos dos personagens, dos ambientes frequentados, dos
presentes generosos do protagonista (todos de "marca", o Mercedes é
esportivo CLK, o Audi é SUV, a cueca é Ralph Lauren, o analgésico é Advil, um show
de marchandising) Toda esta combinação
me fez lembrar os romances de banca, dos quais Sabina é o mais famoso, que li
na adolescência.
Entretanto a
expectativa do "caliente", pelo menos para mim, ficou frustrada. Um
erotismo que não engata. Além de milionário generoso e bonitão o Mr. Grey é uma
espécie de sádico de butique, que com suas algemas e chicotes encanta a Anastasia,
ou Ana para os íntimos. Os personagens são um tanto inverossímeis. A moça é
virgem aos 21 anos, nunca tinha sequer se masturbado, tão logo inicia a vida
sexual com o "absurdamente gostoso" do Christian se transforma numa
maquina de orgasmos "como uma massa tremula de hormônios femininos em fúria".
Contardo Calligaris,
na sua coluna na Folha acredita que o livro "pegou" porque é uma pornografia
possível, a história é semelhante com a de casais reais, onde a fantasia é um
objeto de negociação: "o quanto cada um pode e deve mudar para o outro, e
quanto pode e deve esperar que o outro mude". Abaixo linck sobre o livro com fala do psicanalista.
http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=submissa-e-psicanalista-comentam-bestseller-erotico-04028C1B3272C8913326&tagIds=4893&orderBy=mais-recentes&edFilter=editorial&time=all&
http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=submissa-e-psicanalista-comentam-bestseller-erotico-04028C1B3272C8913326&tagIds=4893&orderBy=mais-recentes&edFilter=editorial&time=all&
A minha resistência ao
livro é sobretudo porque é mal escrito, os adjetivos e as interjeições são
ingênuos, as cenas de sexo são bem pontuadas, sem economia de detalhes, que
podem talvez ensinar o caminho ao prazer a leitores menos experientes. Tirando estas poucas cenas, o que
sobra é uma história chata, que não se sustenta a um novo olhar ou atenção para
além do entretenimento. São
como disse Ruth Aquino, na revista Época, uma pornografia para amadores.
Para quem quer algo
mais interessante é preferível retornar aos clássicos, como as ousadas fábulas
das Mil e uma noites, ou a ficção
erótica de Anais Ninm escrita nos anos 40. Ou viva e escreva as suas fantasias.
5 comentários:
Também não sou tão chegada ao gênero e pela sua descrição menos ainda.Fez-me rir a tua referência de Sabina porque também lí e na época era mesmo o top das preferências das garotas da escola.
Abraço carinhoso,
Só digo uma coisa: EU RI!!!
Quer dar mais risadas... eu empresto.
A piada do livro teoricamente é o conteúdo erótico acessível para a dona de casa. Alessandra tá com ele aqui pra ler também.
Nao é meu gênero de leitura, mesmo, rs.
Te desejo uma semana abencoada
Bjao
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