UMA MENINA

Contam que o meu avô materno soltava fogos de artifício quando nasciam os filhos. Quando chegavam as mulheres a recepção bem menos calorosa. No penúltimo dos filhos os foguetes estouram antecipadamente e ele sofreu uma queimadura, o caçula não teve a saudação ruidosa.

Este comportamento machista deve ter sido uma herança de um Brasil rural, quase medieval, onde a força de trabalho do homem no cultivo da terra era muito valorizada.

Acredito que a vida foi mostrando para ele que o mundo havia mudado e que a força muscular não era tudo e que as mulheres podiam tanto quando os homens. Digo isto porque recordo do quanto ele incentivava a todos os netos no estudo. Na minha casa, éramos, na época, duas meninas, ele chegava, pedia para ver os nossos boletins e se as notas eram boas (sempre eram) ele dava um incentivo (dinheiro).

O meu pai também esperou um menino, o meu enxoval foi marcado com o nome de Paulo, surpreendi sendo menina. Nova expectativa com nova gravidez e mais uma menina. Doze anos depois tentaram outra vez e mais outra garota chegou. Com os netos quase houve empate, a última a chegar desempatou, são tres meninos e quatro meninas.

Toda esta conversa pra dizer que a família recebeu esta semana mais uma menina. Mantendo a tradição dos nomes em M, chegou Marina, minha sobrinha neta, filha de Pablo e Verena. Uma garota moderna, como disse a sua tia Mel, chegou em azul, mostrando que mulher pode tudo e mais duas coisas.