O POETA DRUMMOND
A imagem do poeta que vem a memória é de um homem de jeito tímido, voz tranqüila e sorriso discreto caminhando pelas ruas de Ipanema. O homem não esta mais entre nós, mas permanece a sensação de proximidade, que vem dos versos, certamente porque eles trazem a essência do sentimento humano.
Nos últimos dias dediquei algum tempo à releitura de poemas e fui percebendo porque permanecemos amando Drummond por conta desta identificação. Quem de nós não viveu uma situação de perplexidade, em que o verso “E agora José?” parece talhado para aquele momento. Ou sentiu-se como “um estranho impar” ou um enigma a desvendar: “Como decifrar pictogramas de há dez mil anos/ se nem sei decifrar minha escrita interior?”
Como todos nós, ele tem seus instantes de desencanto com a humanidade: “Esse é tempo partido,/ tempo de homens partidos (...) Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos/ As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei.” Em momentos mais otimistas acredita na fraternidade das mãos dadas para enfrentar a desesperança: “Estou preso à vida e olho meus companheiros/ estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças/ Entre eles considero a enorme realidade/ O presente é tão grande, não nos afastemos/ não nos afastemos, vamos de mãos dadas.”
O amor é outro tema recorrente na obra de Drummond como o qual também nos identificamos. Quem não viveu a intensidade do amor, mesmo que não correspondido: “Eu te amo porque te amo/ não precisas ser amante,/ e nem sempre sabes sê-lo/ eu te amo porque te amo/ amor é estado de graça/ e com amor não se paga.” Ou fez declarações de amor como “Eu te gosto, você me gosta/ desde tempos imemoriais” ? Também há quem tenha se tornado fragilizado e inseguro, capaz de se tornar implorativo: “Quero que todos os dias do ano/ todos os dias da vida/ de meia em meia hora/ de 5 em 5 minutos/ me digas: Eu te amo.”
O lado erótico poeta também nos anima: “O que se passa na cama/ é segredo de quem ama/ ... e silenciem os que amam/ entre o lençol e a cortina/ ainda úmidos de sêmen/ estes segredos de cama”. Apesar da recomendação ele nos revela alguns destes segredos: “Chão é a cama para o amor urgente/ amor que não espera ir para a cama/ Sobre o tapete ou duro piso, a gente/ compõe de corpo e corpo a úmida trama”. Descreve momentos amorosos: “Sob o chuveiro amar, água, sabão e beijos/ ou na banheira amar, de água vestidos/ amor escorregante, foge, prende-se/ torna a fugir, água no olhos, bocas,/ dança, navegação, mergulho, chuva, / essa espuma nos ventres”.
O do lado difícil do amor, a perda, foi assunto de poema, transformando a dor em poesia. Quem fica impassível a versos como este: “As coisas que amamos/ as pessoas que amamos/ são eternas até certo ponto (....) do sonho do eterno fica esse gozo acre/ na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar”. Mas traz o tempo de superação: “Amar o perdido/ deixa confundido/ este coração (.....) Mas as coisas findas/ muito mais que lindas essas ficarão.”
A poesia, assim como toda arte, perpassa nossa vida, dialoga com a nossa sensibilidade e nos ajuda a compreender e lidar com os nossos sentimentos. É por isso que os poemas de Carlos vão permanecer sempre conosco e ele será considerado sempre o maior poeta brasileiro.

Leia também o post comemorativo de Bel (prima irmã amiga) do Deixo ler e os poemas que estão chegando a cada hora no Fio de Ariadne da Vanessa.
Tucha,
Belo ver esses dois posts dedicados ao grande Drumond.Aqui você nos apresenta esses detalhes biográficos muito curiosos dele,obrigada mais uma vez pela partilha!
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