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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A MAÇÃ NO ESCURO


Era um cômodo grande, talvez um armazém antigo,
empilhado até o meio de seu comprimento e altura
com sacas de cereais. Eu estava lá dentro,
era escuro, estando as portas fechadas
como uma ilha de sombra em meio do dia aberto.
De uma telha quebrada, ou de exígua janela,
vinha a notícia de luz.
Eu balançava as pernas, em cima da pilha sentada,
vivendo um cheiro como um rato o vive
no momento em que estaca.
O grão dentro das sacas, as sacas dentro do cômodo,
o cômodo dentro do dia dentro de mim
sobre as pilhas dentro da boca fechando-se de fera felicidade.
Meu sexo, de modo doce, turgindo-se em sapiência,
pleno de si, mas com fome,
em forte poder contendo-se,
iluminando sem chama a minha bacia andrógina.
Eu era muito pequena, uma menina-crisálida.
Até hoje sei quem me pensa com pensamento de homem:
a parte que em mim não pensa
e vai da cintura aos pés reage em vagas excêntricas,
vagas de doce quentura de um vulcão que fosse ameno,
me põe inocente e ofertada,
madura pra olfato e dentes,
em carne de amor, a fruta.

Adélia Prado

2 comentários:

Éverton Vidal Azevedo 15 de agosto de 2010 às 20:48  

Ela é única. Sou fan mesmo. Cecília, Neruda e ela sao o trio poético da minha vida rs.
Bj.

Anônimo,  27 de setembro de 2010 às 15:48  

necesidad de comprobar:)

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