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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NÃO PERGUNTE



Uma pergunta sempre difícil de responder: Quantos anos você acha que eu tenho? Quem arrisca responder geralmente erra. Pode delicadamente, calcular por baixo, ou por pura maldade, jogar o número um pouco mais para cima. Na verdade, as aparências quase sempre enganam, induzindo à equívocos na avaliação. A coexistência entre os anos que temos e os que aparentamos nem sempre é pacífica. Pior ainda entre a idade real e a que gostaríamos de ter.

Quando somos jovens, queremos ter mais idade, especialmente para ter acesso a coisas que são proibidas aos menores. Depois, lá pelos vinte anos, damos uma parada e assumimos a idade exata. Pode ser uma fase curta, ou não, dependendo dos interesses envolvidos e da angústia de cada um em relação ao processo de envelhecimento.

Inicialmente a alteração nas contas pode ser dar por mera distração, se embaralham nos números. Mas à medida que chegamos aquele ponto que consideramos subjetivamente o limite da juventude se intensifica a briga com os números. A confusão pode ser até inconsciente e, muitas vezes, quando diante da necessidade de uma informação exata numa consulta médica, por exemplo, a pessoa se reporta ao ano de nascimento e faz as contas para confirmar a idade.

Mas números não são nada, encarar os sinais do tempo é que são elas. Os poetas falam um pouco sobre esta experiência, Drummond fala das indicações do corpo: Talvez uma sensibilidade maior ao frio,/ o desejo de voltar para casa mais cedo. Num outro poema é mais pessimista: Sinto que o tempo sobre mim se abate/ sua mão pesada. Rugas, dentes, calva.../Uma aceitação maior de tudo,/ e o medo de novas descobertas.

Cecília Meireles revela a surpresa diante de uma fotografia no poema Retrato: Eu não tinha este rosto de hoje/ assim calmo, assim triste, assim magro/ nem estes olhos tão vazios/ nem o lábio amargo/(....) Eu não dei por esta mudança./ Tão simples, tão certa, tão fácil.

A constatação diante do espelho é descrita por Afonso Romano Santanna: Sem minha permissão/ começa a me envelhecer/ isso pode se dar à noite/quando distraído durmo desamparado/ atrás da minha pele/ como se um escultor oculto/ um perverso maquiador/ preparasse a máscara/ no espelho da manhã.

Um dia desses uma amiga contava que um antigo porteiro do prédio onde morava a encontrou na rua e perguntou: É dona M? Ela confirmou a identicação e ele saiu com esta: Dona M como a senhora está acabada, quase não a reconheci. Um tanto indelicada a sinceridade do senhor, sem dúvida, mas o envelhecimento aos nossos olhos e nos alheios não é fácil de encarar.

São tantas as dificuldades: a perda da beleza juvenil, os limites de mobilidade do corpo, alguma perda de memória e diante disso o que será que sobra de positivo? Recorro outra vez aos poetas, Vinicius tem um poema com intitulado Resta... onde já velho ele olha para trás e vê o que restou, o que valeu a pena. “Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas...” “Resta essa capacidade de ternura...” “Resta esse antigo respeito pela noite...” “Resta essa vontade de chorar diante da beleza...” O poeta vai, assim, contando as vivências que lhe deram alegria. Foram elas que restaram.

Já entenderam o que está ocorrendo, acabei de mudar de idade (não me perguntem quantos anos fiz, certo) e bateu uma sensação estranha, uma confusão de coisas ao crepúsculo! Prossigo buscando paz e alegria naquilo que me resta viver e resgatando a menina que ainda vive em mim. E pra fechar, encontrei um poema de Manoel Bandeira que gostaria de haver escrito.

VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus sapatinhos atrás da porta.

Manoel Bandeira


PS - Foto do bolo da segunda festa de aniversário, surpresa elaborada por minha filha, irmã e sobrinha. Muito bom!

2 comentários:

Marcio Melo 22 de dezembro de 2011 às 13:53  

Excelente texto de aniversário Marta.

E adorei o bolo, muito criativo.

Felicidades mais uma vez!

Bel 23 de dezembro de 2011 às 16:48  

Ei, que baixo astral é esse??? Nada disso!!!
Você não está acabada, não está velha (lembra que juventude é um estado de espírito?), aos cabelos brancos damos um fim com a boa e velha tintura, e as rugas... bem, essas ficam, porque nada é perfeito.

A primeira festinha aqui foi gostosa, rimos muito, comemos coisas gostosas e celebramos sua vida. Pra que melhor?

O espelho? Ah, ele é amigo, basta sabermos olhar.

Beijoooooooo

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