SENTIDOS

Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado
No espaço sem fim

Arnaldo Antunes - Longe

Nossas portas de contato com o mundo - os sentidos, são inesgotáveis fontes de desfrute e dor. Pelos sete buracos da nossa cabeça e a pele que nos recobre, nosso corpo fechado se abre. Música, paisagens, ruídos, calor, o sorriso do filho, o grito de socorro, as cores, as dores...

De que sentido você abriria mão? Eu não sei reponder a pergunta. Beethoven ficou surdo, mas a música permaneceu na sua cabeça, Borges ficou cego, no entanto as letras permaneceram fluindo. Talvez eu prefira que eles me abandonem devagar, mas a memória permaneça ativa e eu possa recordar os prazeres com que eles me deleitavam.

Lembrei por exemplo de como o meu dia de ontem foi festa para os sentidos.

A manhã foi no horto, entre os muitos tons de verde e múltiplas cores das flores, escolhendo que mudas levar. Depois em casa, mexer na terra e para preparar as floreiras do apartamento para a primavera que chega.No final da tarde, celebrando viver na Bahia, entre turistas e nativos, contemplei o pôr do sol caminhando entre a praia do porto e o farol da Barra. Luzes do ocaso refletidas no mar tranquilzam a alma. Cheiro forte de dendê no ar, mas o sabor escolhido é o da água de coco gelado. A noite chegou macia.Fomos a um espetáculo de teatro, onde a personagem faz considerações filosóficas sobre a vida, antes de lançar-se no abismo.

Nós, escolhemos viver, voltamos a Barra, e vendo as luzes de Mar Grande ao longe, sorvemos o dourado da cerveja gelada e os sabores dos tira-gostos do boteco. Os outros desfrutes não vou compartilhar com vocês.