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domingo, 14 de junho de 2015

O LADO SOMBRIO DA VIDA


A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de cidadania mais onerosa. Todas as pessoas vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença. Embora todos prefiramos usar somente o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde cada um de nós será obrigado, pelo menos por um curto período, a identificar-se como cidadão do outro país.
Susan Sontag – A doença como metáfora


Uma tênue linha separa a saúde da doença, e, a qualquer momento, podemos cruzá-la. A possibilidade de uma longa permanência no reino da doença assusta e inquieta. Receber o diagnóstico de uma enfermidade grave, que traga grandes limitações ou a possibilidade da morte, nos deixa com a sensação de viver um pesadelo. Emoções confusas, pasmo, revolta, medo. Em meio a este turbilhão temos que fazer escolhas de como conduzir a vida dali em diante.

Entre as muitas decisões tomar, há o compartilhar o diagnóstico: contar a muita gente ou restringir a família e amigos mais próximos. Cada escolha, terá os seus desdobramentos.

Sabemos que os amigos podem ser apoio e solidariedade, mas nem todos sabem lidar com a situação. Infelizmente, na nossa cultura, não somos preparados, evitamos falar, ler sobre o tema, e, assim, deixamos de aprender como ser solidários nestes momentos.

Li um relato de experiência, onde a pessoa decidiu contar com naturalidade, a todos os amigos o que estava acontecendo com ela, e teve muitas vezes que consolá-los pois alguns choravam nos seus braços ou do outro lado do telefone. Entretanto, conta a autora, que, o que incomodava mesmo, eram os olhares de pena: “parecia esta estampado do rosto: Coitada, tão nova.”

Além dos olhares, as palavras. Muita gente, sem refletir, diz e coisas que podem magoar, faz perguntas inoportunas, relata experiências trágicas de quem viveu situação semelhante. Existem aqueles, para quem adoecer é tão assustador, que passam a evitar o convívio com o amigo. Em um momento de tanta fragilidade, estas atitudes contribuem para trazer mais sofrimento.

Há também quem, tentando ajudar, traz um monte de informações sobre tratamentos “milagrosos”, alimentos que “curam”, anunciam pesquisas pelo mundo, sem saber exatamente se aquela informação vai contribuir para a situação que a pessoa está vivendo.

O bom é que existe muita gente que traz palavras de conforto e de esperança, abraço carinhoso, dão apoio quando necessário, enchem de cuidado, carinho e mimos.

Escrevo este pequeno texto em função da decisão tomada pela minha filha de restringir a divulgação da sua situação clínica. Buscava evitar olhares de piedade, comentários nem 
sempre sensíveis. Queria que os amigos e conhecidos a olhassem do mesmo jeito de sempre. Nós respeitamos e demos a ela esta proteção.

Durante a caminhada pelo lado sombrio da vida, ela enfrentou as dificuldades, com coragem e esperança. Muitas pessoas estiveram próximas, independente de saberem ou não do que ela vivenciava. Desta forma, pode viver muitos momentos felizes, cercada de afeto, da família, dos amigos, que estão eternizados da nossa memória e nas fotografias.



6 comentários:

Bel 15 de junho de 2015 às 06:55  

Afff escrevi um comentário gigante e ele sumiu...
Só sei que terminava com "te amo"!

luce 15 de junho de 2015 às 08:41  

Texto denso e maduro. Amei, Marta. Você tem o dom das letras na ponta dos dedos. Um beijo carinhoso. Deus lhe conforte sempre

Bergilde 15 de junho de 2015 às 10:27  

Uma profunda e sábia reflexão sobre um argumento muito delicado e que,verdadeiramente,só sabe quem passa.Quando se trata de nossos afetos precisamos encontrar aquela força que só a fé pode dar para também reagir e de qualquer modo apoiar,respeitando sempre a vontade do outro.Tucha,meu grande abraço fraterno daqui!

Unknown 15 de junho de 2015 às 22:28  

Marta voce é forte, uma verdadeira guerreira. A forma com que voce esta enfrentando esta perda imensurável de forma equilibrada e sem sucumbir ao sofrimento, que deve ser tamanho, eu so tenho que externar a admiração que eu tenho por você que é muito grande pode ter certeza. Estou aqui, em algum lugar pensando em você. Beijos te amo, me procure quando quiser um dengo.

Marcio Melo 17 de junho de 2015 às 16:25  

Meus sentimentos, mais uma vez Marta.

Tentei escrever várias coisas, apaguei várias vezes. E aí a gente percebe que realmente não estamos preparados para tudo na vida.

Desejo muito paz e força pra você, Ramon e toda a sua família.

Tucha 20 de junho de 2015 às 19:43  

Queridos
Grata pela palavras carinhosas. Estamos na medida do possível nos acostumar com a ausência dela. com o jeito todo especial que tinha. O consolo vem da presença e do carinho da família, estou em Ilhéus com os meus pais e de amigos

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