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quarta-feira, 5 de março de 2014

TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO - RESENHA DE LIVRO

AGUALUSA, Jpsé Eduardo. Teoria Geral do Esquecimento- Rio de Janeiro: Foz, 2012


Durante os últimos dias estive em Luanda através da literatura de Agualusa, escritor angolano. A leitura, concluída hoje, deixou a sensação de ter tido em mãos um livro precioso: Teoria Geral do Esquecimento. E questionei-me porque não tenho lido mais autores africanos lusófonos.

Mistério, poesia, sensibilidade a cada página, uma narrativa contada em ritmo próprio, onde acontecimentos, devaneios, sonhos, se entrelaçam vamos gradativamente compreendendo atitudes, situações, estranhezas, dúvidas. Uma história incrível narrada de forma admiravel, e, como disse o próprio autor “um homem com uma boa história é quase um rei”.

O eixo central do romance é Ludovica – Ludo, uma portuguesa de Aveiro, que vai parar em Luanda com a irmã, quando esta se casa com um engenheiro angolano. Descrita como quem desde criança “nunca gostou de enfrentar o céu”, andava continuamente com um guarda-chuva. Tornou-se mais reservada depois de um fato a que chamava de “acidente”, um dos segredos do livro. Na nova cidade, com costumes tão diversos, torna-se ainda mais deslocada refugiando-se nos livros e nas tarefas domésticas.

Vem a revolução, a independência de Angola, o cunhado e a irmã desaparecerem e Ludo vê-se de repente sozinha, aterrorizada com a violência que vê pela janela, decide, como estratégia de sobrevivência, erguer uma parede frente a porta do apartamento e vive emparedada durante décadas. O mundo se esquece dela e ela se esquece do mundo. “Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde escrever. Também não tenho mais caneta. Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo na comida na água, no fogo e nos adjetivos.”


Outras histórias vão se desenvolvendo em paralelo, aparentemente distantes da primeira, mas que vão se entrelaçando como um mosaico, fazendo com que tudo tenha sentido. O autor descreve seus personagens como "pessoas que foram esquecidas ou que desejam ser esquecidas". 

A ficção ocorre dentro de um contexto histórico real, a guerra de independência de Angola, onde se vivia um turbilhão de acontecimentos, colonos portugueses fugindo, e a guerra cruel onde mercenários de diversos países juntamente com o militares sul africanos, combatem tropas cubanas e angolanas. No vazio do Estado, deixado pela guerra, a impunidade libera lados obscuros. Pessoas são presas, fuziladas em praça públicaEntretanto, não há uma preocupação em explicar o caos ou definir personagens como bons ou maus, mas pessoas complexas vivendo uma época histórica difícil.

O livro busca um jogo entre a memória, o esquecimento e o renascimento de um novo tempo das cinzas. Recordar para compreender, perdoar, esquecer e prosseguir reconstruindo um novo tempo. “ Não se atormente mais. Os erros nos corrigem. Talvez seja melhor esquecer. Deveríamos praticar o esquecimento.” Assim, 

5 comentários:

Vera Lucia Torres,  6 de março de 2014 às 01:49  

Interessante. Ainda não li o livro, mas parecer conter algumas reflexões que faço no dia-a-dia, e como facilmente esqueço (não aquelas da idade) e coisas parecem não ter existido.

Bergilde 6 de março de 2014 às 07:39  

Tucha,bom dia!
Como você penso que a boa leitura é aquela que nos leva também a pensar,refletir,questionar .Pelo seu relato este livro parace transmitir algo além da ficção romancesca que visa muitas vezes apenas a comercialidade da obra.Bateu vontade de procurar aqui pra ler.
Abraços,

Bel 11 de março de 2014 às 20:13  

Desejei ler esse... quando vier à Capitania, traga pra me emprestar! Estou precisando de "leitura leve"...
Beijos, saudades...

Ramon Pinillos Prates 15 de março de 2014 às 15:33  

É tipo "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças"?

Tucha 19 de março de 2014 às 13:51  

Não Ra, não tem nenhuma semelhança, há um certo toque de mistério.
Lhe empresto Bel.

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